Cláudia Muniz do Amaral
Procuradora de Estado
Em tempos de pandemia, descobrimo-nos menores do que imaginamos, ou melhor, enxergamos o nosso real tamanho, as limitações, dificuldades e impossibilidades.
No momento que estamos vivendo, a vontade não é suficiente para a realização dos nossos propósitos, porque existe algo maior que atinge o coletivo e que nos faz descobrir que não vivemos sós, que somos uma orquestra perfeita que precisa de todos os instrumentos para tocar a sinfonia e, quando um desafina, é o suficiente para macular o som.
Começamos a enxergar os garis nas ruas fazendo a limpeza, sentimos o quanto são importantes as empregadas domésticas, os enfermeiros que nos assistem quando necessitamos, os porteiros e tantos outros trabalhadores essenciais em nossas vidas, cujo sublime valor descobrimos agora.
Descortinamos o véu de uma realidade que não visualizamos na correria do cotidiano porque a engrenagem criada para a nossa vida não permite que nos preocupemos com o meio em que vivemos, com o outro que está tão próximo e a quem não conseguimos estender a mão, sequer escutá-lo. Quantos perdemos no caminho? Tantos poderíamos ter ajudado se estivéssemos atentos para o verdadeiro sentido da nossa existência…
Chega de supetão em nossas vidas. Um vírus que se chama Corona veio para transformar formas de pensar, agir e viver, e forçosamente nos convida à reflexão sobre valores e prioridades. Diferentemente de outras lutas, nesta não precisamos pegar em armas, ao contrário, o remédio é ficar em casa, porque ao sair podemos ser a arma. Não é uma guerra sangrenta como as que a história noticia, embora muitos soldados estejam sendo mortos.
É necessário que possamos entender que os números que temos de infectados e óbitos não são uma mera conta matemática, porque uma vida envolve sentimentos, famílias, projetos. Cada ser humano não é um mundo em si, ele arrasta uma teia enorme de pessoas que estão envolvidas com aquela realidade.
Estamos passando por momentos difíceis. Não seremos os mesmos quando tudo passar, ou então não teremos aprendido a lição. Quando as lojas, os restaurantes e os shoppings abrirem, os empregados voltarem ao trabalho e a vida for retomando seu passo, mais que nunca teremos de ser IRMÃOS, porque as dificuldades serão muitas.
Para nós cristãos, a responsabilidade é maior porque conhecemos o mandamento que Jesus nos ensinou: AMAI-VOS UNS AOS OUTROS COMO EU VOS AMEI. Na verdade, somos uma família, embora inúmeras vezes nos esqueçamos disso.
A COVID-19 nos obriga a uma visita interior e a uma faxina necessária para recolhermos o que não nos eleva. Além disso, nos trouxe de volta aos nossos lares, onde podemos estar juntos com os nossos, usufruir os prazeres dos elos afetivos e, também, os dissabores, mas de igual forma digeri-los para que possamos crescer, afinal esta é a nossa missão na terra.
Resta-nos, após esta tempestade, ressurgirmos novos e enxergarmos o próximo com as lentes do amor que Jesus tanto praticou. Que seja Ele o nosso modelo.
Que o legado deste momento seja o aprendizado de que ninguém é feliz sozinho, de que nenhum corpo é saudável se algum órgão sofre, de que ninguém se beneficie da dor alheia porque somos irmãos. Que aprendamos neste isolamento social, ao menos, o significado da família em nossas vidas, e que possamos estender o nosso amor àqueles menos aquinhoados que, independentemente da pandemia, sofrem porque não têm casa, alimento, escola, trabalho, transporte… “vida em abundância”.
Assim como depois da quaresma vem a Páscoa, que depois do isolamento social venha o novo homem/mulher, que a fraternidade e a solidariedade sejam os pilares principais em nossas vidas, que saibamos construir um novo mundo, como diz Ivan Lins em sua bela canção: “No novo tempo, apesar dos castigos, estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos, pra nos socorrer. No novo tempo, apesar dos perigos, da força mais bruta, da noite que assusta, estamos na luta, pra sobreviver. Pra que nossa esperança, seja mais que vingança, seja sempre um caminho que se deixa de herança…”.
Paulo, um exemplo de fé na história do Cristianismo, em sua carta aos Coríntios, sempre tão atual, nos ensina: “Agora, portanto, permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e o amor. A maior delas, porém, é o amor”.
Em tempos de pandemia… amai-vos!